Atualmente, está a integrar algum projeto?
Um projecto de fundo, é a CDA, em si, com a qual por vezes me envolvo a 100% na criação e produção de diferentes projetos e noutras vezes, como atualmente, me envolvo apenas como atriz em espetáculos específicos. Vim agora de Nova Iorque, onde fiz algumas leituras interessantes e voltei com algumas ideias que gostaria de concretizar.
Fora da Companhia, fui convidada para integrar o elenco de um espetáculo que ainda está numa fase embrionária, pelo que não há muito que possa dizer além de que deverá ser uma comédia. E estão ainda a passar cenas minhas, como Paula Bastos, nos Morangos com Açúcar, mas já terminei as gravações.
Já teve participações em telenovelas, mas já algum tempo que não a vemos nos ecrãs televisivos. Passou a dedicar-se mais ao teatro?
Sim, de certa forma. Com as exigências da formação e sustentabilidade da Companhia, deixei de ter tempo para grandes coisas fora da mesma, sendo que desde o seu nascimento e até ir para os EUA, apenas atuei nalguns episódios da novela “Queridas feras”, em 2004, nos "Morangos om Açucar" em 2005 e na série “Sete vidas” em 2006. Houve mesmo uma altura em que nem na CDA havia tempo para ser atriz, tendo que me dedicar exclusivamente à sobrevivência da estrutura, onde sempre fiz de tudo, desde a escrita de projetos, captação de recursos, produção, assessoria de imprensa, tradução e adaptação de textos, captação de imagens, etc.. Trabalhávamos muitíssimas horas por dia, com toda a fé nesta nossa criação. Ao fim de três anos fui para Nova Iorque e voltei com vontade regressar ao pequeno ecrã (onde já estive por mais duas vezes: um scketch humorístico com o Rui Unas n’ “A última ceia” e agora a oitava série dos Morangos) e de estrear em grande no grande! Ahah!
Qual foi a personagem que mais a marcou?
É difícil dizer... bom, esquecendo as personagens incríveis que só trabalhei para as aulas lá em Nova Iorque... Em teatro, talvez a Sílvia, de “Mão na luva” (Oduvaldo Vianna Filho), pelo tempo que esteve comigo e pela oportunidade que isso me deu de a descobrir e aprofundar. Por outro lado, a May, de “Loucos por amor” (Sam Shepard) é uma paixão antiga. Em televisão, apesar de ter sido mais “pequena” que outras que interpretei, a Rute Lima, de “Saber amar”, foi um marco na minha maturidade interpretativa. AH! E não me posso esquecer do meu querido Michael, uma das minhas personagens da série de animação Peter Pan. Adorei o Michael...!
Considera que o facto de ter tido formação como bailarina a pode ajudar no seu trabalho como atriz?
A minha formação e experiência profissional como bailarina são uma mais-valia e agora também o início do meu percurso nas artes marciais pode ser interessante para interpretar outro tipo de personagens! Ahah!
Quando esteve em Nova Iorque 'atualizou' a sua formação enquanto atriz. Mas onde é que incidiu a sua formação?
A minha formação teve diferentes áreas de incidência. O trabalho com o António foi fundamental. À parte do que eu já tinha, de domínio corporal e experiência de palcos/televisão, em termos de trabalho teatral, foi com ele que dei os primeiros passos e os cimentei. Entre outras coisas, trabalhámos muito com improvisação. Mas foi também muito importante outra formação que fiz com diversos profissionais nacionais e estrangeiros em técnicas de interpretação, como o Método/Sensory (Stanislavsky/Strasberg), EMDR, teatro visual, teatro físico, interpretação para câmaras... bem como em áreas complementares: estudo de cena, análise de texto, combate cénico, physical storytelling, movimento para o ator, máscara neutra, técnicas de casting, voz, história do teatro, canto e escrita para teatro,entre diversas outras. A formação no HB Studio, em Nova Iorque, foi a de incidência mais prolongada numa técnica específica (Hagen technique).
Tem algum ritual antes de entrar em palco ou de começar a gravar?
Tenho. Mais no teatro que em televisão. Gosto de chegar duas horas antes do espetáculo... e gosto de ter um espaço no camarim que seja “meu”, durante a temporada. Tenho uma série de objetos que disponho nesse espaço quando chego e que guardo no fim da peça. Uns representam os Elementos da Natureza, outros são amuletos. Com roupa confortável, aqueço um pouco corpo e voz e depois gosto de ficar em silêncio enquanto me maquilho, já entrando no universo da personagem. Raramente esse silêncio é possível quando há outras pessoas no camarim, que é o que acontece na maioria das vezes... ahah, mas de alguma forma retiro-me do meu quotidiano de Sandra, para o desta outra pessoa que depende de mim. Quando já estou pronta, volto a aquecer corpo e voz e quando estou quase a entrar, fico pela coxia, em comportamento da personagem.
Existe alguma técnica para decorar mais rapidamente os textos?
Isso é uma coisa que intriga muita gente, não é? Como é que os actores fazem para decorar aquilo tudo! Acho que não existem técnicas que se apliquem a todos nós. Eu uso técnicas diferentes, de acordo com o meio em que estou a trabalhar (teatro ou ecrã) e com as exigências quanto à altura em que o material deve estar decorado. Mas, de facto, tenho uma técnica com que me dou bem sempre que preciso de fixar em pouco tempo: Depois de ler/conhecer a cena, repito a primeira frase diversas vezes – sempre “a seco” (em branco), ou seja, sem lhe dar uma entoação, uma motivação específica. Isto, até a saber bem. Depois repito a frase seguinte. Quando sei a segunda, repito as duas seguidas, diversas vezes, com velocidade crescente até conseguir dize-las muito rapidamente, sem hesitar. Depois faço o mesmo com a terceira e junto as três... e assim sucessivamente, até ao final do texto. Por vezes memorizo mais de uma frase de cada vez, mas sempre com este processo. Pessoalmente, quando tenho interlocutores na cena, estudo SEMPRE o que eles dizem. Pelo menos o “sumo” das suas palavras. Nunca só as deixas. NUNCA! E sinceramente, acho que isso me ajuda a memorizar, porque tenho uma boa percepção de toda a cena.
Mas decorar qualquer pessoa consegue fazer, com mais ou menos tempo, com uma ou outra técnica. O desafio está no resto... e parte dele consiste em falar como quem não sabe o que vai dizer e escutar como quem não sabe o que vai ouvir!